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Publieditorial

04/12/2020 - 18h18

Publieditorial: Liberte seu DP da Síndrome de Patinho Feio e entregue a melhor experiência ao colaborador

A maneira de trabalhar do DP precisa evoluir continuamente, diz Marcelo Nóbrega neste artigo

 

Por Marcelo Nóbrega*

 

Cena 1

A profissional liberal Luisa e seu marido João, advogado de uma grande empresa, estão sentados diante da TV, sem prestar muita atenção à programação. A filha do casal, Júlia, junta-se aos dois e puxa uma conversa: ´Estou pensando em estudar para me tornar uma profissional de DP´. Os pais, entre estarrecidos e frustrados, não conseguem articular uma única palavra. Em silêncio, se perguntam: ´Onde foi que erramos?´

 

Cena 2

Em um happy hour da firma, o papo está dos mais animados, até que o local de trabalho vira assunto.

 

- Essa empresa não tem RH, só tem DP.

 

- O nosso RH não é estratégico, não passa de um DP. 

 

E seguem-se outras tantas frases do tipo, que parecem ter virado modinha na boca de pseudo-gurus da gestão e de trabalhadores infelizes com seus empregadores. 

 

Nas duas cenas descritas, o DP aparece desempenhando o papel de patinho feio dos departamentos da estrutura corporativa tradicional. No imaginário coletivo, DP, RH e gestão estratégica de pessoas são estágios discretos de evolução e amadurecimento da prática. É como se o DP fosse o ‘primo pobre’ da família para muitas empresas, quando pode ser absolutamente estratégico!

 

O termo Ambidestria Organizacional dá um tom de modernidade aos conceitos de exploração e explotação apresentados pelo professor de Stanford James March ainda no início da década de 1990. Trata-se da capacidade de uma organização reunir competências tanto para inovar quanto para aumentar a sua eficiência. A convivência desses modelos mentais conflitantes (resultados de curto X longo prazo e inovações incrementais X disruptivas) é o que garantirá a longevidade das empresas (e dos seus departamentos) no novo mudo VUCA – sigla em inglês para volátil, incerto, complexo e ambíguo.

 

Como isso se aplica ao nosso bom e velho DP?

 

Nossa legislação trabalhista é complexa. Convivemos com um sem número de leis, regulamentações, certificações, certidões negativas, fiscalizações e auditorias. Multas ameaçam os responsáveis por prazos, pagamentos, recolhimentos, impostos e homologações. E as visitas periódicas que precisamos fazer ao DP para a assinatura de documentos, como a atualização da carteira de trabalho, programação de férias, recibo de férias, promoções, recolhimento sindical, mudanças nos planos de benefícios etc? O volume de documentos gerado por qualquer um desses simples procedimentos é um deboche. 

 

Não há outra maneira de administrar um DP a não ser com a eficiência conseguida por meio da utilização da tecnologia, sistemas e processos bem desenhados. E, em virtude das constantes mudanças do ambiente regulador e evolução da tecnologia, a maneira de trabalhar do DP precisa evoluir continuamente.

 

Para quem tem dúvida de que a eficiência do DP influencia diretamente a experiência e engajamento do colaborador, pergunto: quem consegue trabalhar bem tendo dúvidas se o salário vai cair direitinho na conta no final do mês? E o que dizer sobre as interrupções frequentes na rotina de trabalho para assinar e entregar documentos físicos no DP? Tempo, dinheiro e paciência perdidos. 

 

Queremos que o RH foque em desenvolvimento, engajamento, avaliação de potencial, planejamento de sucessão, planos de carreira e cultura organizacional. E, só pra sofisticar a provocação, por que não jogar no mix algumas siglas e expressões em inglês? Employee experience, employer branding, EVP…

 

O problema é que não dá para cuidar de Desenvolvimento Organizacional quando os alicerces não estão bem construídos. A evolução do RH se dá em bases sólidas. É parecido com a pirâmide de Maslow, lembra dela? Precisamos resolver o básico antes de alçar voos maiores.

 

Pense agora numa empresa com milhares de colaboradores. O custo dessa folha é um dos itens mais relevantes na coluna de despesas do P&L. Fazer uma gestão ágil e segura da folha é ou não uma atividade estratégica? Nesse caso, ou o DP tem o maior número de pessoas entre os subdepartamentos do RH ou é terceirizado. E custa uma fortuna. Sem falar na quantidade de colaboradores que busca o DP para esclarecer dúvidas diariamente, em função da complexidade da legislação...

 

Para melhorar o desempenho da equipe do DP, aplicando o conceito de explotação (criar eficiências), são necessários processos e sistemas muito bem desenhados, pessoas treinadas e a eliminação ou terceirização de tarefas de pouco valor agregado. Há muitas tecnologias surgindo para ajudar nessa missão, como reconhecimento facial para o batimento de ponto, processo de admissão online de colaboradores e assinatura eletrônica de documentos periódicos - só para citar alguns. A experiência do colaborador, garanto, vai ter um ganho incrível.

 

E temos ainda os bots. Assim como a Júlia e a Luíza interagem com os clientes da Latam e Magalu, o Help Desk do RH também pode ser otimizado com um assistente virtual. O assistente virtual interagirá com o colaborador no momento mais conveniente para ele e responderá a todos com precisão e uma boa vontade incansável.

 

À primeira vista, pode parecer que estamos apenas pensando em melhoria contínua, mas não. Minha experiência com um bot no Help Desk de RH foi surpreendente. Além do ganho de eficiência, percebemos que os colaboradores estavam aprendendo com as respostas do assistente virtual. As perguntas feitas aos profissionais passaram a se repetir com menos frequência; o nível das dúvidas se sofisticou. A partir daí, ficou clara a diferença que um bot faria em ações de treinamento.

 

E, para concluir, já se deu conta de que o DP é o CRM interno da empresa? Bora tirar proveito disso! Todos os dados cadastrais e de interação dos colaboradores estão ou podem estar armazenados nos sistemas administrados pelo DP. 

 

Olha aí o People Analytics quicando na área! Em vez de criar um departamento à parte, o DP pode ser o responsável pelas análises de absenteísmo, turnover, utilização do plano de saúde, entre outras, que permitirão conhecer melhor a prata da casa.

 

Se levarmos em conta que todos da empresa interagem com o DP com certa frequência, que outro melhor lugar para começar um movimento de mudança e de transformação digital? Acenda a fagulha! Comece um movimento. Embarque tecnologia no DP com o intuito de mudar a experiência do colaborador. Contamine. Contagie. Acredite na serendipidade. Logo você verá iniciativas inovadoras brotando em outros departamentos.

 

O DP me remete muito ao conto do dinamarquês Hans Christian Andersen, o Patinho Feio. Aquele em que o protagonista, incompreendido, era na verdade um lindo cisne. Mas até se descobrir como tal teve que conviver com a miopia dos seus pares.

 

*Do mercado financeiro à gestão de pessoas, Marcelo Nóbrega é um executivo inquieto que gosta de fazer a diferença, tanto para o negócio, quanto para as pessoas. Liderou a área de RH de grandes multinacionais. É autor do livro Você está contratado!, professor universitário, palestrante, coach, mentor, conselheiro e investidor anjo de HR Techs, âncora do programa Transformação Digital e cohost do Kenobycast e escreve para os blogs da Gestão RH e HSM Management. Entre outros reconhecimentos pela sua atuação, em 2018 foi eleito o RH mais influente da América Latina e Top Voice do LinkedIn.

 

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Foto de abertura: Alessandro Couto