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02/06/2020 - 17h33

74% das empresas preveem recuperação entre 6 e 18 meses após fim do confinamento

65% indicam intenção de manter o seu quadro de funcionários, de acordo com pesquisa da Deloitte

 

A pandemia da Covid-19 tem afetado os mais diversos setores da economia no mundo todo. Com o objetivo de entender quais foram os principais impactos da crise até o momento e as perspectivas de recuperação dos negócios estabelecidos no Brasil, a Deloitte realizou uma pesquisa inédita com 1.007 executivos de 662 empresas de 32 segmentos de atividades.

 

Realizado entre 28 de abril e 12 de maio, o levantamento retrata um cenário de impactos sem precedentes nas organizações, mas também uma capacidade de reação rápida da maior parte delas, acelerando mudanças em diversas frentes, a partir de ações já implementadas ou a implementar até junho, dentro do intervalo que compreende cerca de 100 dias após a decretação da pandemia pela OMS.

 

A pesquisa identificou as ações de respostas das empresas a partir de seis dimensões: governança da crise, gestão de pessoas, impactos financeiros, cadeia de suprimentos e operações, clientes e receitas e tecnologia e meios digitais.

 

Sobre os reflexos nos negócios ao longo desses primeiros 100 dias da crise, 67% esperam redução das receitas e vendas, enquanto 68% preveem diminuir custos e despesas. Embora 56% acreditem que poderá haver problemas de inadimplência dos clientes, 65% indicam intenção de manter o seu quadro de funcionários. O estudo aponta que, para todos os setores de atividade, o nível de endividamento deve aumentar. Os setores de TI e telecom são os únicos que aparecem com aumento do volume de serviços no período, enquanto turismo, hotelaria e lazer, junto com o de veículos e de autopeças, são os que se destacam com reduções mais fortes das receitas.

 

A parcela mais otimista dos entrevistados (17%) acredita que a recuperação dos seus negócios poderá acontecer até o final do 1º semestre deste ano. Porém, a maior parte (74%) prevê entre 6 e 18 meses após o final do período de confinamento.

 

A média de respostas das empresas dentro de cada setor indica expectativas muito distintas. Entre os entrevistados de setores que apostam numa retomada mais rápida, no período de 6 meses, estão os de TI e telecom, agronegócio, alimentos e bebidas, extração mineral, serviços de educação, serviços às empresas, metalurgia e química, higiene e limpeza. O grupo de setores que acreditam numa recuperação mais lenta, em até 18 meses, é composto por: comércio, transporte e logística, turismo, hotelaria e lazer, veículos e autopeças, associações e ONGs, bens de consumo, construção, saúde e farmacêutica.

 

Para Ronaldo Fragoso, sócio-líder da Deloitte para as Respostas de Negócios à Covid-19, mais do que mapear os impactos da pandemia em diversos setores e identificar a expectativa dos tomadores de decisão sobre a retomada dos negócios, o estudo, inédito no país, ganha maior expressão ao apontar para uma mudança estrutural na forma como as organizações atuam.

 

Ele explica que os resultados consolidados da pesquisa estão apresentados a partir de três partes principais: impactos da crise, respostas das empresas e expectativas para as fases de recuperação e sustentação.

 

"As empresas mostram que essa fase em torno de 100 dias após a decretação da pandemia é de dar respostas à crise e não propriamente de recuperação. Ao mesmo tempo em que respondem à crise, as organizações acabam empreendendo uma transformação substancial, ao acelerar mudanças em diversos campos e elevar sua maturidade de gestão, conforme se pode verificar nos resultados da pesquisa", analisa.

 

Governança, gestão de pessoas e trabalho virtual

Uma grande parcela das empresas que ainda não possuíam estruturas formais de controles internos e de gestão de riscos e crises adotou iniciativas logo após o começo da pandemia ou indicou fazê-lo no curto prazo, ampliando a disseminação dessas práticas.

 

Se, antes da pandemia, apenas 19% das empresas tinham um plano de gerenciamento de crise adequado para dar conta do desafio que surgiu com a Covid-19, 92% indicaram já ter estabelecido ou adequado os seus antigos planos, ou o farão no curto prazo. A criação de um comitê de crises, antes utilizado por 25% das empresas, agora está presente ou em formação para 89%. Antes da crise, apenas 22% das empresas faziam o acompanhamento regular da atualização de leis e regulações que as impactavam; esse número saltou para 97% desde a decretação da pandemia.

 

O trabalho virtual, embora fosse uma tendência já em curso antes da crise, especialmente em determinados segmentos de atividade, foi consideravelmente ampliado. Com a Medida Provisória que recentemente regulamentou o teletrabalho, essa modalidade se colocou rapidamente como resposta à manutenção das operações em muitas organizações. Essa transformação no modelo de trabalho traz desafios imediatos em termos de adaptação de infraestrutura tecnológica, processos, políticas administrativas e gestão de equipes. O total de empresas que utilizavam teletrabalho ou condições flexíveis antes era de 24%; agora, as que adotaram ou pretendem adotar até junho totalizam 98%.

 

Impactos financeiros e cadeia de suprimentos

Buscar outras fontes de recursos, como créditos tributários e benefícios temporários do governo, foram medidas tomadas ou consideradas por 84% das empresas, ante 19% em períodos anteriores à crise da Covid-19. Já 97% das organizações adotaram ou adotarão, até o término do ciclo de 100 dias da decretação da pandemia, ações para preservação do capital de giro e da liquidez (antes, eram 44%), enquanto 98% realizaram ou pretendem realizar a revisão de despesas operacionais.

 

A renegociação de contratos com agentes de toda a cadeia de relacionamento despontou como alternativa relevante: 82% assinalaram fazer renegociação com fornecedores, 79% com clientes e 79% renegociaram ou estão entrando em processo de renegociação de contratos de ativos permanentes, ante 11%, 10% e 14%, respectivamente, no período anterior à crise.

 

Além de buscar apoio na operação, algumas empresas também tiveram a preocupação de proteger os negócios de seus parceiros, na medida em que 35% realizaram, ou estão para realizar, aportes financeiros ou adiantamento a fornecedores mais vulneráveis.

 

Por outro lado, para outro terço das empresas, os impactos da crise na cadeia de suprimentos resultaram em ação de fechamento temporário das plantas produtivas.

 

A migração quase imediata dos canais de vendas físicos para os digitais foi realizada por 83% das empresas – parcela quase idêntica (84%) à das que treinaram seus profissionais para atender ao cliente no ambiente digital. Enquanto 74% dos entrevistados readequaram a estratégia de precificação de seus produtos e serviços, 65% trabalharam no reposicionamento do valor da marca. Já 83% adotaram a diversificação da produção, de forma a atender às novas demandas do cliente.

 

Tecnologias e meios digitais

Diante da necessidade de uma mudança brusca no regime de operação, com a virtualização radical do trabalho em muitos casos, as empresas precisaram responder com muito mais rapidez às novas demandas tecnológicas. A adaptação para o uso de novas plataformas digitais e/ou o fortalecimento das que já eram empregadas tem sido fundamental para apoiar a manutenção das atividades para grande parte das empresas participantes.

 

A pesquisa aponta que 53% das empresas estavam preparadas com infraestrutura para o acesso remoto antes da pandemia; o índice, agora, saltou para 96%.

 

Com o tráfego ainda mais intenso de informações no ambiente digital e a adoção do teletrabalho, a questão dos riscos cibernéticos, que incluem segurança e privacidade de dados, passou a ser uma preocupação ainda maior do que a usual: passou de 65% para 87% o total de empresas que adotaram ou adotarão no curto prazo a avaliação de aspectos relacionados à segurança e privacidade de dados.

 

Por outro lado, os gestores passaram a se preocupar crescentemente com o gerenciamento tempestivo das informações de toda a organização, requerendo mecanismos de acompanhamento e controle. Já o desenvolvimento de dashboard de dados e alertas para executivos passou a ser considerado por 83% das companhias, ante 46% no período pré-crise.

 

Ações sociais

A pesquisa mostra como as organizações de diferentes setores estão atentas ao momento para desenvolver ações que gerem impacto social. De acordo com o levantamento, 58% fizeram campanha de esclarecimento sobre a Covid-19, cerca de 55% realizaram doações de alimentos e de bens materiais, 27% ajustaram o portfólio de produtos para atender às necessidades da sociedade e 22% realizaram doações em dinheiro e trabalho pro bono a governos e entidades sociais. Já 8% das empresas estão envolvidas em projetos de Pesquisa & Desenvolvimento de tratamentos e vacinas. Somente 2% firmaram o compromisso de não demissão de funcionários mesmo com queda de receitas e 1% adotou medidas de apoio a pequenos negócios.

 

Preocupações para as fases seguintes

A preocupação com as transformações que impactarão as novas formas de trabalhar e de produzir no médio prazo é marcante entre os entrevistados. Sinal disso está no fato de que o ajuste da cultura organizacional e do modelo de trabalho à nova realidade que virá após a crise foi um item indicado como mais relevante do que o nível de endividamento.

 

As preocupações mais apontadas foram: necessidade de mudança do modelo de trabalho e da cultura organizacional (60%), necessidade de revisão no processo operacional (42%), nível de endividamento da empresa (41%), acompanhamento de novas tendências de consumo (41%), mais investimentos em tecnologia e conectividade (40%), perda de participação de mercado (33%), surgimento de novos produtos e serviços disruptivos (29%) e expansão da multicanalidade de vendas (27%).

 

Imagem de abertura: Pixabay