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Gestão de Pessoas

25/07/2022 - 18h39

Burnout é sobre a violência invisível que aumenta no trabalho remoto

Somos muito pouco eficientes em nos identificar como agentes agressores, diz Ana Tomazelli neste artigo

 

 

 

Por Ana Tomazelli*

 

 

• Primeiro país no ranking de ansiedade em nível global;

• Segundo em burnout;

• Quinto em depressão.

 

O Brasil acumula posições preocupantes quando o assunto é saúde mental e tudo vai passar pelo trabalho, ou seja, pelas relações que estabelecemos nos ambientes físicos ou remotos em que desenvolvemos alguma atividade profissional.

 

Estatísticas sociais são estatísticas corporativas. Temos a tendência de colocar a culpa nas empresas, esquecendo que as empresas – e qualquer outra corporação – são representadas por pessoas.

Se um jogador de futebol faz algo errado, o que isso significa para o time?

 

A cobrança por resultados, o WhatsApp tarde da noite, o e-mail com letras maiúsculas, o grito na reunião, o tratamento do silêncio, a retirada de tarefas, a exclusão dos eventos, a piada sobre o corpo, a insistência na intimidade, a falta de feedback, as ameaças indiretas, o deboche diante de um resultado que poderia ter sido melhor: posturas tóxicas são o ponto de partida e a nutrição de um ambiente doente.

 

Violências invisíveis que ganham muito espaço em formatos híbridos ou 100% remotos.

 

Não respeitar os próprios limites (ou nem reconhecê-los) também contribui para exaustão, mas é injusto atribuir responsabilidades individuais quando o problema é sistêmico e quando o medo de perder a fonte de renda é maior do que a coragem de se preservar.

 

Por outro lado, esperar que o sistema mude no curto prazo –  essa poderia ser uma boa notícia – é quase ingênuo da nossa parte, o que nos traz de volta às esferas mais particulares.

 

O esgotamento no trabalho se dá muito mais pela forma com que nos relacionamos do que com quem  ou com o que nos relacionamos. Pesquisas recentes da Gallup contam que 86% das pessoas que trabalham de forma remota apresentaram pelo menos um dos 12 estágios dentro das seis etapas até o nível máximo de exaustão. E por que esse número é maior para quem trabalha integralmente de forma remota?

 

Porque 67% das pessoas ainda se sentem pressionadas a estarem disponíveis durante todo o tempo, inclusive fora da jornada "tradicional" conhecida como "horas úteis" ou mesmo fora dos horários combinados previamente, e 45% declaram estar trabalhando mais horas do que deveria.

 

Além disso, 63% dos profissionais se sentem desencorajados a tirar folga. Férias, então, nem pensar! Como posso me dar ao luxo de desaparecer, se já nem existo? Se não me veem?

 

Reconhecer, nomear e interromper as violências invisíveis deveria estar na prioridade de todo o time. Somos excelentes em saber quando sofremos algo, mas muito pouco eficientes em identificar quando somos os agentes agressores.

 

No modelo remoto, a forma ganha um peso muito maior, principalmente na abordagem verbal: é preciso declarar os limites, fazer mais perguntas, aprender a manifestar os desagrados e buscar consensos. É preciso elogiar mais, celebrar mais, acolher mais!

 

O que você consegue fazer de diferente ainda nesta semana?

 

 

 

*Ana Tomazelli é psicanalista, idealizadora do Ipefem – Instituto de Pesquisa de Estudos do Feminino e das Existências Múltiplas e acumula 20 anos de experiência em RH e Gestão de Pessoas

 

 

Foto: Divulgação