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Gestão de Pessoas

07/07/2022 - 11h44

Jornada de trabalho: é possível o Brasil ter uma semana de quatro dias?

Para Andrea Deis, gestora de carreira e neurocientista, essa é a hora

 

 

 

A Islândia testou uma semana de trabalho de apenas quatro dias e o sucesso foi "esmagador", segundo pesquisadores. De acordo com o resultado, a produtividade foi a mesma ou melhorou na maioria dos locais de trabalho. Além disso, os trabalhadores relataram se sentir menos estressados ou com menor risco de esgotamento. Houve ainda melhora na saúde e maior equilíbrio entre vida profissional e familiar. A jornada semanal de 40 horas passou para 35 ou 36 horas, com os trabalhadores recebendo a mesma remuneração.

 

Segundo a Autonomy, grupo de pesquisa sobre o futuro do trabalho do Reino Unido, e a Associação Islandesa de Sustentabilidade e Democracia, responsáveis pelo estudo, a experiência, realizada entre 2014 e 2021, mostra uma série de benefícios. Entre eles, menos estresse para os trabalhadores, maior qualidade dos serviços, sem afetar a produtividade, e mais tempo para desfrutar com amigos e familiares. Mas seria possível implantar esse modelo no Brasil?

 

Para a gestora de carreira e neurocientista Andrea Deis, esse momento pandêmico é apropriado para se pensar em uma virada de chave, principalmente pela valorização do sistema híbrido de trabalho ou da instituição do home office em diversos segmentos.

 

Andrea, que também é professora de Gestão de Pessoas na Sociedade do Conhecimento na FGV, é favorável à redução de jornada de trabalho por permitir um maior equilíbrio da vida pessoal e profissional. Mas, para que esse cenário se concretize, é necessária uma mudança de mentalidade dos empresários, uma vez que boa parte deles ainda tem uma relação com o trabalhador marcada pelo autocontrole e monitoramento.

 

"É preciso mudar isso, estabelecendo uma relação de confiança, dando autonomia e responsabilidade ao colaborador, exigindo entrega e não horas trabalhadas", diz Andrea.

 

Em uma jornada mais flexível, mudanças de posicionamento são esperadas também por parte dos trabalhadores. Para a especialista, essas mudanças geram também outro padrão de competitividade, no qual os profissionais são estimulados a apresentar uma maior eficiência. "Será necessário ter uma visão mais abrangente, não relacionada apenas à execução de tarefas, mas a entregar algo a mais: uma solução, uma oportunidade, algo encantador", exemplifica.

 

Segundo ela, os trabalhadores podem até apresentar uma reação inicial de medo ou um senso de incapacidade diante da nova situação. “Mas, aos poucos, a maior autonomia, que é a base para uma relação de entrega com o empresário, independentemente da jornada de trabalho executada, faz aumentar a autoconfiança e a autoestima, resultando em um profissional muito mais produtivo", finaliza.

 

Foto: Freepik/Rawpixel