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20/04/2022 - 11h59

A esperança na caixa de chicletes Ping Pong

O resgate da ética é abordado no artigo de Marcelo Madarász

 

 

 

Por Marcelo Madarász*

 

 

O Mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo) transformou-se no Mundo BANI (frágil, ansioso, não-linear e incompreensível). Enfrentamos uma pandemia que colocou tudo de pernas para o ar e da noite para o dia fomos obrigados a nos reinventar. Novo normal, home office, trabalho remoto, híbrido, ergonomia, processos trabalhistas, depressão, burnout, vícios, drogas, crimes, guerra, ideologia, esquerda, direita, fake news, lock down, máscaras, álcool em gel, adolescentes adoecidos, escolas, retorno às aulas, custo de vida, inflação, STF, políticos, tornozeleiras, crimes, mentiras. De nós muito é exigido. Não sabemos mais quem é mocinho, quem é bandido. Nossos outrora ídolos são presos ou estampam as páginas policiais. Aquilo que parecia não é, aquilo que não parecia é e assim vamos nos perdendo num labirinto de emoções, angústias e medos. Muita gente pensando em sair do Brasil – mas para onde? Isso adianta? Muita gente pensando em sair da Terra, mas adianta? Para onde? Haverá um país? O que será do nosso país sofrido, roubado, enganado por tantos séculos? Há esperança?

 

Enquanto muita gente se desespera, os índices de doenças e perturbações mentais sobem, bem como taxas de suicídio, doenças psicossomáticas, sinistralidade nos convênios médicos, por outro lado há um movimento muito grande de mobilização pela luz, pelo correto, pela Ética, pela justiça. Luz e sombra, bem e mal, direita e esquerda, silêncio e som, estagnação e movimento, caos e ordem, tempestades e calmarias e toda sorte de polaridades continuarão sempre compondo o cenário humano. Cada um de nós vai ter que aprender a fazer a travessia, com menos dor possível e com mais alegria possível. Sendo realista, mas sem se deixar abater, desenvolvendo uma das competências mais desejadas e necessárias hoje: a tão falada resiliência.

 

Há uma atriz brasileira, carioca, que há décadas encanta seu público com o despertar da consciência. Em um momento tão desafiador quanto o atual, ao ter sido indagada pelo filho porque eles não iam embora do Brasil, resolveu responder a ele, a si própria e, para nosso deleite, a seu público, da forma mais poética do mundo, por meio de um espetáculo que é verdadeira declaração de amor ao nosso país. Tecendo uma trama tocante, emocionante, triste, alegre, profunda, leve, com mestres da música, principalmente Zeca Baleiro, e outros mestres, a resposta veio de forma luminosa na peça A Esperança na Caixa de Chicletes Ping Pong.

 

Há uma convocação para o resgate da ética e da poesia. Esperança, além de ser um antídoto para muitos males – como disse Mia Couto precisamos falar dela todos os dias, só para que ninguém esqueça que ela existe –, é também um inseto verde que parece um gafanhoto e nessa peça, escrita por Clarice Niskier, nos remete ao resgate da simplicidade, doçura e do encanto das crianças, quando ela guardava sua esperança na caixa de chicletes. Mas a esperança precisa de lugares maiores, precisa do voo e é para esse espaço maior que devemos ir. Que nunca percamos nem a ética, nem o amor, nem a fé no ser humano e em nosso país, que nunca percamos a esperança.

 

 

*Marcelo Madarász é diretor de RH para América Latina da Parker Hannifin

 

Foto: Marco Suguio