Por Marcelo Madarász*

 

 

Essa pergunta é da música O Que Foi Feito Devera, de Márcio Borges e Fernando Brandt, gravada por Milton Nascimento e imortalizada por Elis Regina. Há uma história linda a respeito da canção e seu simbolismo, mas o recorte que quero fazer nos remete ao universo das corporações, das carreiras, das escolhas e de nossos sonhos.

 

Desde sempre, aprendemos que nossas vidas são feitas de escolhas e o filósofo já disse que somos condenados à liberdade. A frase de Jean-Paul Sartre pode suscitar algumas dúvidas e reflexões acerca do paradoxo entre uma condenação e a liberdade. Sem nos aprofundarmos no conceito em si, desde que podemos fazer escolhas, há um sofrimento inerente a essa ação, pois ela implica perda.

 

Se eu escolho o trabalho remoto, perco o trabalho presencial. Se eu escolho a vida de casado, perco a vida de solteiro. Tudo isso remete a discussões que podem ser intermináveis e nos levar do nada a lugar nenhum. Brincadeiras à parte, escolhas implicam perdas e a maturidade está justamente em saber lidar com as consequências de nossas escolhas.

 

Há muitos sonhos que se perdem e em nossas vidas pessoais e profissionais, conhecemos inúmeras histórias de pessoas que estavam indo tão bem e de repente algo lhes acontece, que temos a impressão de que pegaram o atalho errado. Não estou me referindo apenas às questões éticas, mas também há armadilhas do próprio ego e escolhas equivocadas.

 

Equívocos fazem parte da nossa dimensão humana e aqui também reside um grande aprendizado. O que fazemos com nossos equívocos e erros? Lamentamos profundamente e interrompemos o ciclo de evolução ou transformamos essa experiência humana em aprendizado? Novamente, escolhas.

 

Como tudo na vida tem o lado sombra e o lado luz, há sonhos que se perdem, pessoas que nunca se encontram e há sonhos que transformam o mundo e, junto com eles, pessoas que se tornam grandes. Temos Martin Luther King, que lindamente descreveu seu sonho e por ele lutou. Temos Mandela, Jesus Cristo, Buda, enfim, a lista felizmente é muito grande e nem sempre precisamos recorrer a almas tão conhecidas como essas. Em nosso círculo pessoal e profissional, certamente há muitos nomes que podem fazer parte dessa lista. Eu, felizmente, conheço vários e você também deve conhecer!

 

A palavra gratidão, como outras, pode até ter sido desvirtuada, desgastada e empobrecida de seu significado mais profundo, mas, sem entrarmos no julgamento, há uma nobreza e uma fortaleza infinitas nesse sentimento, que só podemos enaltecer e recomendar.

 

Tenho um exemplo lindo para compartilhar com vocês – tanto de um sonho que deu certo, como da expressão da gratidão. Para tornar uma longa e linda história curta, em 2007, a Natura criou um Programa de Desenvolvimento de Lideranças, que tive o enorme privilégio de conduzir. Eram 28 líderes que na ocasião foram reconhecidos como sendo de alto desempenho e alto potencial. Certamente, posso falar com muito orgulho dos 28, mas o recorte que quero fazer é o de uma das líderes, cujo nome já remete à força. Seu nome é Bárbara Fortes.

 

Desde a participação no programa, acompanho sua trajetória. Em janeiro de 2022, Bárbara anunciou que responderá pela operação no Brasil da Estée Lauder. Ela comentou que o seu desafio será inspirado na beleza, no empoderamento feminino e na empresária pioneira que foi a fundadora da empresa. Centenas de comentários e felicitações, lado luz que as redes sociais permitem, e entre eles, um também participante do programa a parabenizou. Bárbara respondeu: “Saudades e muito sucesso para você também. Fico tão feliz de ver os participantes do nosso programa de líderes como agentes de mudança no mundo!”

 

Não preciso dizer da emoção que senti ao ler esse depoimento. Muito mais que refletir sobre sua própria condição e brilho que a levaram a esse desafio, ela escolheu reconhecer algo que contribuiu para seu aprendizado, numa linda declaração de humildade e expressão da gratidão. Que a sua jornada continue sendo de muito sucesso, que nos sirva de exemplo. E você? Já expressou sua gratidão? Faça isso! É um exercício poderoso!

 

*Marcelo Madarász é diretor de RH para América Latina da Parker Hannifin

 

 

Foto de abertura: Marcos Suguio