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21/01/2022 - 15h09

O tempo passa, o tempo voa e a poupança Bamerindus nem existe mais

O excesso de informações pode ser altamente tóxico, alerta Marcelo Madarász em sua coluna mensal

 

Esse jingle só fará sentido para as pessoas que hoje tem mais de 40 anos. Ele foi muito famoso e era de um banco paranaense muito conhecido, o Bamerindus. O jingle era: O tempo passa, o tempo voa e a poupança Bamerindus continua numa boa… Não é mais verdade, pois nem a poupança e nem o banco existem mais. Isso pode nos remeter a um conceito budista da impermanência, conceito esse também expresso no ditado popular: não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe. Tudo em constante transformação.

 

Muito se falou sobre o mundo VUCA, conceito que surgiu nos anos 1990 sobre volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade (em inglês, Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity). Há vasta bibliografia a respeito e muitas empresas enxergavam – e continuam enxergando – esse cenário como altamente ameaçador, enquanto outras o veem como um oceano de possibilidades. Na evolução dessa discussão, chega o mundo BANI, termo trazido pelo antropólogo e futurista Jamais Cascio; de volátil, o mundo passa a ser um mundo frágil, a incerteza passa  para a ansiedade, a complexidade para a não linearidade e a ambiguidade para a incompreensão. BANI: Brittle (frágil), Anxious (ansiedade), Nonlinear (não linear) e Incomprehensible (incompreensível). Há novamente vastíssima bibliografia a respeito desse novo conceito e análises exaustivas dos impactos desse cenário para o mundo e para as organizações

 

O que percebemos, entre outras coisas óbvias: já estamos na reta final de janeiro, há em muitos o sentimento do tempo passando de forma absolutamente vertiginosa e há um absurdo excesso de conceitos para tudo e isso pode nos deixar extremamente desconfortáveis, porque sentimos que nunca estamos totalmente cientes, capacitados ou devidamente orientados sobre tudo que se discute.

 

Nós nos sentimos verdadeiramente desorientados, sem nos dar conta de que o excesso de informações pode ser altamente tóxico. Queremos ter todos os conceitos, estar a par de tudo que se discute nas redes sociais, nos infinitos – e muitas vezes insuportáveis – grupos de WhatsApp. E também precisamos dar conta de todos os afazeres domésticos, necessidades familiares, exigências do trabalho e ainda, de preferência, viajar, ser bem-sucedido e postar as provas disso, ser fitness, emagrecer, ficar saudável, meditar, etc., etc., etc. É tarefa para os super-heróis, só que somos simplesmente humanos. Humanos inclusive que se deram um pouco mais de conta de suas fragilidades, carências, necessidades e outras características essencialmente humanas, com os reveses da pandemia e de muitas ações que foram necessárias para que pudéssemos nos adaptar e seguir a vida.

 

Talvez um importante aprendizado que possamos ter agora é compreender que não podemos e nem precisamos ser super-heróis e obtermos nota dez em tudo. Que tal sermos humanos e nos aceitarmos com toda a luz que temos, mas também com todas as sombras e limitações? Que tal pararmos de ser carrascos de nós mesmos e verdadeiramente nos tratarmos com toda a gentileza e generosidade que merecemos? Que tal nos considerarmos dignos e merecedores de tudo que é bom, pelo simples fato de simplesmente sermos de fato merecedores?

 

O mundo continuará complexo, haverá muitas adversidades e os desafios continuarão sendo imensos. Há um porto seguro para cada um de nós, que é interno e é a ele que precisamos recorrer sempre e não apenas quando houver uma tempestade.

 

Em última instância, o que algumas técnicas de meditação nos convidam a fazer é justamente esvaziar a mente e nos conectarmos com nossa essência e com esse maravilhoso porto seguro que existe dentro de nós! Que possamos assim, salvaguardar a nossa lucidez!

 

*Marcelo Madarász é diretor de RH para América Latina da Parker Hannifin

 

 

Foto de abertura: Marcos Suguio