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03/11/2021 - 07h00

Você tem fome de quê?

A resposta pode nos levar a uma vida (e carreira) de plenitude, diz Marcelo Madarász neste artigo

 

 

 

Por Marcelo Madarász*

 

Essa é uma pergunta feita com sabedoria na música Comida, de Arnaldo Antunes, lançada em 1987, que nos remete a um questionamento absolutamente importante e existencial sobre o que move cada um de nós. Anos mais tarde, Deepak Chopra lançou um livro cujo título é o mesmo do nosso artigo e que versa sobre a solução definitiva para perder peso, ganhar confiança e viver com leveza. O autor fala sobre a comida e nossos vazios internos.

 

Curiosamente há farta bibliografia a respeito da tentativa de diminuir angústias e outras faltas pela comida. A Cabala da Comida, do rabino Nilton Bonder, é um clássico que pode ajudar muito na compreensão da dinâmica humana e suas fomes. Aquilo que nos desassossega, nos faz perder o sono e gera angústia é muito variável de pessoa para pessoa.

 

Nos últimos meses, a pandemia convidou muitas pessoas a olhar de forma mais profunda alguns fenômenos e, por conta disso, muita gente se viu obrigada a refletir sobre suas carreiras. Novamente aqui, a reflexão pode ser feita utilizando-se a nossa primeira pergunta: você tem fome de quê?

 

Tive um coach que me ensinou muito sobre carreira e ele dizia que no novo contrato de carreira ela é gerenciada pela pessoa e não pela organização, que é definida por uma série de experiências, habilidades, aprendizados, transições e mudanças na identidade ao longo da vida e que, nesse contexto, desenvolvimento seria um aprendizado contínuo, autodirigido, vinculado a competências e encontrado em desafios de trabalho. E que muita gente, por meio da carreira, busca o sucesso psicológico, mas que, apesar de conseguirem atingir aquilo a que se propuseram, não conseguiam ficar felizes ou sentir o que poderíamos chamar de bem psíquico, autorrealização, plenitude, gozo, justamente porque os parâmetros empregados não eram próprios, mas, sim, impessoais.

 

O que estou sugerindo é uma reflexão sobre a pergunta mais importante que cada um de nós deve se fazer: o que nos faz brilhar os olhos, o que nos dá vontade de levantar todos os dias e realizar por meio do exercício de nosso ofício, o que nos dá sentido à jornada, o que nos engaja a ponto de nos fortalecermos e enfrentarmos as dificuldades e revezes ao longo do caminho? Sem essas perguntas e sem essas respostas, muito provavelmente estaremos contribuindo para uma existência que pode ser percebida como vazia ou desprovida de propósito.

 

Que ao refletirmos sobre isso, possamos chegar à conclusão de que aquilo pelo qual temos lutado, muitas vezes, não é o alimento que nos dará a sensação de plenitude. Muitas vezes, adotamos fórmulas de sucesso dos outros e ficamos angustiados por percebermos que não estamos felizes.

 

Que possamos nos encontrar e descobrir do que de fato temos fome! Após essa descoberta, que cada um tenha coragem de romper com algo, se for necessário, e buscar novos caminhos. Não podemos nos dar o direito a jogar fora uma existência inteira, que pode nos levar à plenitude se assim nos propusermos!

 

*Marcelo Madarász é diretor de RH para América Latina da Parker Hannifin

 

 

Foto de abertura: Marcos Suguio