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14/09/2021 - 11h04

RH e IPO

Rita Sbragia, executiva de RH Latam da Diversey, compartilha suas experiências em abertura de capital

 

 

 

Por Rita Sbragia*

 

 

Imagine que você é um grande investidor. Como gostaria que fossem as empresas nas quais você iria investir? Feche os olhos por alguns segundos e tente imaginar como elas seriam.

 

Eu fiz esse exercício e vieram à minha mente temas éticos, de sustentabilidade, governança, inovação e lucratividade. Também vieram fatores por vezes intangíveis, como cultura organizacional e engajamento dos colaboradores. Em uma inesquecível aula no MBA Executivo de RH Estratégico que cursei, aprendi que cada vez mais os aspectos intangíveis irão se sobrepor aos tangíveis na valorização das empresas.

 

Tive a oportunidade de participar de dois IPOs na minha carreira (sigla que significa oferta pública de ações, o primeiro passo para ser uma empresa de capital aberto). Esse costuma ser um momento muito aguardado por líderes e colaboradores e as empresas têm que estar muito bem gerenciadas e organizadas de maneira que despertem o interesse dos investidores. Quanto mais bem-sucedida a oferta de capital, mais recursos para investimentos em crescimento a empresa terá, e quando cresce a empresa, crescem as oportunidades para as pessoas.

 

Nas duas experiências eu ocupava a posição de head de RH para a América Latina. A primeira, em 2015, foi a cisão dos negócios de performance chemicals da DuPont formando a The Chemours Company. Não é difícil imaginar o desafio para a liderança em manter o engajamento dos colaboradores que amavam a empresa anterior. Novos e inspiradores valores foram incorporados, como empreendedorismo coletivo e simplicidade inovadora, o que tornou a empresa mais dinâmica, capacitando e dando aos colaboradores o poder de decisão inerente às suas funções. Desenvolvimento, clareza de papéis, envolvimento dos funcionários, inovação de baixo para cima e reconhecimento entraram fortemente na agenda dos líderes. Resultado na América Latina: engajamento de 76%, 89% e 91% nos três primeiros anos. Nesse período também houve uma grande valorização das ações na bolsa, com grandes recompensas a todos.

 

Meu segundo IPO foi neste ano, na Diversey, empresa do portfólio da Bain Capital. Ingressei aqui em 2018, encontrando uma organização impactada por grandes mudanças nos últimos anos. Iniciamos um forte trabalho de engajamento, focando em comunicação, desenvolvimento, flexibilidade, integração e reconhecimento que viraram o jogo. De uma organização que amava a empresa, mas insegura em relação ao futuro, passamos a ter uma equipe com muito entusiasmo e brilho nos olhos, entregando resultados acima dos esperados. E que emoção foi, já neste primeiro ano de IPO, a empresa ser reconhecida pela FIA/UOL como uma das Empresas Incríveis para Trabalhar no Brasil.

 

Como líder de RH, compartilho os seguintes aprendizados com essas grandes experiências:

 

CULTURA -  “A cultura come a estratégia no café da manhã”, disse Peter Drucker. Se a empresa quer ser inovadora, por exemplo, mas pune ou rotula quem comete erros ao invés de aprender com eles, nenhuma estratégia irá alcançar os resultados desejados. E o que é a cultura? A cultura são os comportamentos, como as coisas são feitas na empresa (e não o que está postado no site da empresa ou afixado nas paredes). E quem quer investir em uma empresa na qual os líderes não fazem o que falam? A missão, os valores e os comportamentos têm que ser muito bem comunicados e a liderança tem que dar o exemplo todos os dias.

 

LIDERANÇA -  Dificilmente uma liderança tradicional trará o sucesso esperado pelos investidores de maneira sustentável. É fundamental que os líderes compartilhem uma visão, engajem as pessoas, as desenvolvam, inspirem, desafiem, aceitem novas ideias, valorizem a diversidade e reconheçam resultados e comportamentos. A liderança é um dos pilares de uma organização de alto desempenho e um elemento-chave da cultura. Líderes devem conhecer as fortalezas das pessoas e extrair o melhor delas, excedendo assim a expectativa dos clientes e trazendo retorno para os acionistas.

 

APRENDIZADO CONTÍNUO - As mudanças aceleradas não param: de um mundo VUCA, sigla em inglês que significa volátil, incerto, complexo, ambíguo, estamos em transição para um mundo BANI (na tradução para o português: frágil, ansioso, não-linear, incompreensível). É um cenário em que temos que aprender todos os dias, ter uma mentalidade de crescimento: acreditar no potencial, abraçar desafios, atuar em feedback, aprender com as pessoas e com os próprios erros e ter entusiasmo. Fazer a mesma coisa há anos sem desafiar o “sempre foi feito assim” pode te tornar um profissional obsoleto. Investidores buscam empresas que gerem retorno e para isso têm que continuamente buscar as habilidades técnicas e comportamentais necessárias. Hoje em dia já não adianta ser bom o suficiente, tem que ser excelente o suficiente e, para isso, o perfil da organização tem que se atualizar constantemente.

 

Os desafios de um IPO são imensos e eu fortemente acredito que o dia a dia tem que ser divertido. Ter amigos no trabalho, rir juntos, aprender uns com os outros, não ter medo de errar, conhecer-nos como pessoas e não só como profissionais. Como disse Renato Russo em uma entrevista: “Se não for divertido, não vale a pena”.

 

Ver neste ano minha foto no painel da Nasdaq, uma mulher brasileira no centro financeiro mundial, durante a cerimônia virtual de abertura de capital com a toca dos sinos foi um momento mágico! Que meus aprendizados possam inspirar você ainda mais em sua jornada para deixar um legado nas empresas e na vida das pessoas que estiverem no seu caminho.

 

*Rita Sbragia é diretora sênior de RH para América Latina da Diversey

 

Foto de abertura: Divulgação/Diversey