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09/07/2021 - 12h05

Precisamos falar de saúde mental na volta ao trabalho

Eduardo Tancredi aborda como os efeitos do isolamento podem afetar o retorno aos escritórios

 

 

Por Eduardo Tancredi*

 

Há mais de um ano estamos buscando outras rotas para lidar com o novo mercado de trabalho e os efeitos perversos que a pandemia tem causado. Deixamos nossos escritórios bem equipados e a companhia diária dos colegas e migramos para o ambiente online, onde nossos quartos e salas se transformaram em um local de trabalho temporário.

 

Tudo isso causou uma série de episódios de estresse e ansiedade em muitas pessoas. Afinal, estamos lidando com um futuro incerto e ainda equilibrando todas as responsabilidades de uma só vez, como atender os filhos que também estão em casa e precisam de atenção, o homeschooling e os diversos afazeres que o nosso lar exige. Quando, finalmente, estamos nos habituando melhor com o home office, eis que muitos estão recebendo um comunicado dos seus gestores dizendo que é hora de voltar ao ambiente físico da empresa. E agora?

 

É hora de mudar a rota novamente e seguir outra direção. A ansiedade, o medo e o estresse de organizar a nova rotina e lidar com a Covid-19 que ainda está lá fora afetando tantas pessoas começam a surgir. Além disso, encontrar os colegas de trabalho traz incertezas e as tarefas de dentro de casa que já estavam sob controle também tendem a pesar.

 

É nesse ponto que as empresas precisam aumentar cada vez mais o apoio à saúde emocional dos funcionários. Essa afirmativa está elencada no relatório anual da Associação Americana de Psiquiatria.

 

A associação apresentou números importantes, mas esperados, sobre os efeitos da Covid-19 nos profissionais dos Estados Unidos: dois terços relataram que problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, prejudicaram o desempenho no trabalho durante a pandemia. Quatro em cada dez trabalhadores consideram ter iniciado 2021 em luta contra o Burnout, a síndrome de esgotamento emocional.

 

O Instituto Gallup ainda relatou que os profissionais com vínculo de trabalho em tempo integral nos Estados Unidos, 23% têm se sentido esgotados com muita frequência ou sempre. Outros 44% disseram ter essa sensação eventualmente.

 

A gravidade do quadro de esgotamento mental deve ser observada pelos gestores nessa volta ao trabalho. Obter os mesmos resultados de antes dessa crise vai depender do acolhimento e flexibilidade que esse colaborador terá no retorno, além de manter a motivação dos profissionais diante de novas etiquetas e protocolos de convívio. Até porque, de acordo com uma pesquisa realizada pela Microsoft, os líderes dos negócios completaram o primeiro ano de pandemia se sentindo bem, no geral – 61% se definiram como "em fase de prosperidade", ante 39% que se classificaram como "lutando" ou "sobrevivendo". Entre os subordinados, a proporção é quase exatamente a inversa: apenas 38% se sentindo prósperos, enquanto 62% estão "lutando" ou "sobrevivendo".

 

Nesse momento, mais do que nunca, é fundamental investir em estratégias que ajudem esses colaboradores. É claro que o desenvolvimento de saúde mental nas empresas sempre deveria estar na lista de prioridades, já que, de acordo com a Previdência Social, os transtornos mentais são uma das principais causas de afastamento.

 

É fundamental estreitar laços, acolher, observar e flexibilizar, além de apostar em tecnologias, atendimentos e suporte que ajude os seus colaboradores nessa volta.  Ainda assim, é sempre bom lembrar que, em uma organização, ninguém cresce sozinho e sim todos juntos.

 

*Eduardo Tancredi é psiquiatra e diretor médico da eCare

 

Foto: Divulgação/eCare