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05/03/2021 - 00h06

O valor da inteligência de gênero no universo corporativo

Às vésperas do Dia da Mulher, a consultora Cris Kerr aborda o papel do homem na equidade na liderança

  

 

 

Por Cris Kerr*

 

Muitas empresas prestam homenagens no Dia Internacional da Mulher – 8 de março –, oferecendo para as suas colaboradoras chocolates, flores e outros mimos, mas quero propor aqui uma reflexão mais profunda sobre as mulheres no mercado de trabalho e o valor da inteligência de gênero.

 

Segundo o estudo Mulheres no Local de Trabalho, realizado pela McKinsey em parceria com a Leanln.Org, que analisou dados de 317 empresas e mais de 40 mil pessoas, entre julho e agosto de 2020, a pandemia da Covid-19 afetou a rotina profissional das mulheres, que agora sentem que a barreira entre casa e trabalho foi quebrada.

 

Além da preocupação constante com a saúde e as finanças da família, as mulheres foram impactadas de uma forma ainda mais intensa, pois muitas tinham uma jornada dupla, com o trabalho e os filhos. Como as escolas e creches ficaram fechadas, mulheres que são mães tiveram que se desdobrar para dar conta da rotina de trabalho dentro de casa e com os filhos.

 

Por conta dessa mudança brusca que a pandemia trouxe, a pesquisa apontou que uma em cada quatro mulheres está considerando mudar de carreira ou abandonar o mercado de trabalho. E as empresas correm o risco de perder mulheres em diversas posições – e futuras líderes –, o que torna a caminhada das companhias em busca da diversidade de gênero ainda mais desafiadora. Por outro lado, se as empresas investirem em criar uma cultura de trabalho mais inclusiva e empática, conseguirão reter as colaboradoras.

 

Quando tratamos de equidade de gênero na liderança é comum pensarmos que essa é uma causa apenas das mulheres, porém, os homens têm um papel fundamental como agentes de transformação. Isso porque é a partir de mudanças fundamentais na alta gestão que conseguiremos transformar o cenário das corporações em ambientes mais diversos e inclusivos.

 

Um dos pontos críticos a serem trabalhados nessa mudança são as associações mentais referentes as características esperadas de uma pessoa em posição de liderança.

 

Diversas pesquisas científicas apontam que, enquanto os homens são associados a características como competentes, ambiciosos, assertivos, autoconfiantes e racionais, as mulheres são associadas a atenciosas, amigáveis, colaborativas, intuitivas, compreensivas e emocionais. Todas essas características são importantes, ainda mais quando falamos de liderança inclusiva, mas apenas as masculinas têm sido pontuadas como positivas.

 

Outro ponto a ser considerado é que os padrões exigidos das mulheres no mercado de trabalho são mais altos que o dos homens, o que faz com que elas tenham que se esforçar mais para provar a sua competência. É comum que os homens sejam contratados com base no seu potencial futuro, pois já é assumido que eles possuem as características, competências e as habilidades de líderes.

 

Para construir um novo panorama, é preciso criar um ambiente inclusivo nas empresas, com relações profissionais saudáveis e baseadas na confiança. Por isso, é importante saber que homens e mulheres pensam, agem, se comunicam, resolvem conflitos e lidam com a emoção e com o estresse de maneiras diferentes. Este conhecimento se chama "inteligência de gênero" e ele é fundamental para aumentar o senso de pertencimento, a harmonia, a produtividade e a rentabilidade das empresas.

 

As perguntas são um bom exemplo sobre como homens e mulheres agem de forma diferente no ambiente corporativo e como pode haver uma interpretação equivocada. As mulheres amam fazer perguntas! Do ponto de vista delas, a pergunta é uma forma de gerar engajamento e colaboração, além de dar espaço para novas ideias. Já os homens têm a tendência de considerar as perguntas como um sinal de dúvida e falta de confiança das mulheres.

 

Outra diferença de gênero importante encontra-se na solução de problemas. Uma das principais competências dos líderes está em conseguir resolver um problema de maneira rápida. Os homens têm a vantagem de focar nos fatos e conseguirem ser rápidos, por outro lado as mulheres têm a tendência de ver os problemas em um contexto maior, com múltiplas soluções.

 

A inteligência de gênero está justamente em unir o que cada gênero tem de melhor, entendendo e valorizando as diferenças. É preciso um esforço de consciência para que as diferenças e os pontos cegos entre homens e mulheres se tornem pontos fortes e o caminho para a equidade de gênero seja encurtado e mais bem aproveitado, apostando no valor da diversidade como estratégia para que tenhamos empresas – e uma sociedade – mais igualitárias.

 

*Cris Kerr é CEO da CKZ Diversidade e professora de Diversidade da Fundação Dom Cabral

 

Foto de abertura: Divulgação/CKZ Diversidade