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08/02/2021 - 11h07

“Não entendi o enredo desse samba, amor”

Marcelo Madarász aborda, neste artigo, a comunicação interpessoal nas organizações

 

 

Por Marcelo Madarász*

 

Trabalho com uma pessoa de quem gosto muito. Alguns anos de convivência nos fazem aprender a fazer a leitura de cenários, reações, comportamentos, atitudes e até de comentários. Quando ele diz “não entendi”, de duas, uma – ou de fato ele não entendeu, portanto, há a necessidade de mais ou melhores explicações, ou ele entendeu e não gostou ou não aprovou. De qualquer modo, temos aqui duas observações importantes.

 

A primeira é sobre uma competência que, mais do que nunca, se faz necessária: a capacidade de observação e, quero dizer, observação de qualidade. Observar, analisar, fazer a leitura do cenário com todas as entrelinhas existentes e compreender o que aquilo quer dizer, seja um comentário, uma entonação, um sussurro, uma maneira de olhar.

 

A segunda é sobre algo que tem contribuído sobremaneira para a criação de problemas graves na comunicação, ruídos, interpretações malfeitas, equívocos seguidos de um poder destrutivo muito grande que é quando inferimos algo, fazemos suposições e, com isso, podemos certamente nos enganar e criarmos problemas para nós, para a relação, para a organização. A única forma de lidar e gerenciar melhor esse importante elemento nas relações humanas, que é a comunicação, é fazer um pouco o papel que muitas vezes o coach faz, que implica a estratégia para ter certeza se aquilo que você entendeu é de fato aquilo que foi dito.

 

Voltando para a situação inicial que relatei, apesar dos anos de convivência, que tal perguntar: o que exatamente você não entendeu? Como posso esclarecer melhor?

 

Como temos a necessidade de lidar com os egos e essa matéria não existe em nossos cursos de formação, talvez seja adequado trazer a resposta para a primeira pessoa, chamando a responsabilidade para nós: “como EU posso esclarecer melhor, pois talvez EU não tenha conseguido me expressar da melhor forma”.

 

Para ter melhores relações humanas e fazer bom uso de todo o nosso potencial, o primeiro passo necessário é ter autoconhecimento e clareza de propósito, seja aquele maior, que é o propósito de vida, seja o propósito naquela determinada situação. Seu objetivo é criar o melhor ambiente de trabalho possível, expor suas ideias com clareza, aceitar argumentos contrários, ouvir genuinamente o outro e a opinião do outro, que pode ser divergente da sua, e com esse verdadeiro diálogo crescer, evoluir do ponto de vista individual, pessoal e profissional e estabelecer por meio de diálogos adultos, uma relação madura e de confiança. Ou o seu objetivo é única e exclusivamente ganhar aquela discussão, provar a si e aos outros que você estava certo e, com isso, enaltecer seu ego?

 

Com quais objetivos fazemos o que fazemos? Boa parte dos nossos sofrimentos é criada pelos pensamentos que podem ganhar dimensões inacreditáveis e assustadoras e nos aprisionar numa maré de equívocos. Não podemos ter acesso ao que os outros pensam e, muitas vezes, nos flagramos fazendo suposições que podem ser prejudiciais para nós, para a relação, para a dinâmica organizacional. Que tal calçarmos as sandálias da humildade e, se queremos realmente contribuir para o bem comum e fazer a diferença, simplesmente perguntar ao outro se aquilo que você pensa ter compreendido é o que ele quis dizer?

 

Há muitas maneiras de evoluirmos como pessoa e profissional e, certamente, abrir mão do poder do ego e se exercitar na difícil arte dos relacionamentos podem ajudar muito.

 

Boa jornada para todos!

 

*Marcelo Madarasz é diretor de RH para a América Latina da Parker Hannifin

 

Foto de abertura: Marcos Suguio