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13/10/2020 - 11h33

"Eu sou o mestre do meu destino, eu sou o comandante da minha alma"

Acaba de chegar novo artigo de Marcelo Madarász para a Gestão RH. Confira

 

 

Por Marcelo Madarász*

 

Ao longo da história, observamos que alguns anos trazem marcos importantes e 2020 certamente será um deles. A pandemia traz com ela uma série de desafios e pessoas, organizações, países, governos, a sociedade como um todo tendo que se reinventar. Pelo fator inédito da pandemia, os estudos nem sempre são conclusivos e, portanto, sujeitos a alterações, estamos todos aprendendo diariamente.

 

Se, por um lado, havia um movimento de pausa, até mesmo para nos inteirarmos do que estava acontecendo e como poderíamos nos adaptar, muita gente não conseguiu acolher o convite e a convocação para a pausa e, de forma consciente ou não, conseguiu rapidamente manter o ritmo frenético, só que agora transformado em sucessão infinita de lives, reuniões via Zoom e outras ferramentas.

 

A tecnologia é maravilhosa e nos ajuda na adaptação, mas, se mal utilizada, pode ser mais uma nova inimiga. Mais uma vez, a exemplo da prática de meditação (aliás, cada vez mais valorizada), precisamos parar, respirar, serenar a mente e o coração. É saudável encontrarmos o caminho do meio, o equilíbrio, o eixo e, para tanto, recomendável ampliarmos o olhar e tentarmos aprofundar nossa visão.

 

No turbilhão de acontecimentos, com os gestores trabalhando mais do que nunca, é importante ressaltar que, antes da pandemia, muitas coisas já não estavam muito bem, nem tudo eram flores – não podemos viver a crise da viúva que diz “ele era tão bom pra mim…” –, mas fazendo um esforço para olhar o copo meio cheio e. principalmente. para salvaguardar a lucidez. e sendo muito seletivo nos estímulos que nos chegam, somos bombardeados com a proposta do programa de trainees do Magazine Luíza, seguido do programa da Bayer e de toda a polêmica sequente. Boa parcela apoiando, alguns criticando, processos sendo abertos e a comunidade afro se posicionando.

 

Como o ser humano é absolutamente complexo e consegue problematizar mais ainda o que já é complexo, há boa parte dos negros a favor, há alguns contra, a exemplo do que já acontece com as cotas. Como diria o sábio, você está certo e você está certo; cada um tem seu ponto de vista e ele é defensável. Participei de um debate a respeito e os participantes chegaram a ser criticados, pois são brancos debatendo um programa de trainees para negros. Ouvi: “onde estão os negros neste debate?”

 

Teorias à parte, enquanto as opiniões estiverem em seus eixos radicais, não haverá diálogo possível. Para nossos irmãos negros, a inspiração que me vem é de William Ernest Henley. Ele passou boa parte de sua vida em hospitais, devido a uma tuberculose. Uma alma forte num corpo fraco, que escreveu um poema lindíssimo que serviu de inspiração para outra alma gigante que suportou 27 anos de prisão, em sua luta contra o Apartheid, Nelson Mandela.

 

Este é o poema, Invictus, escrito em 1875:

 

“Nas noites que me encobrem,

Negras como um poço, de ponta a ponta,

Eu agradeço a um deus qualquer

Pela minha alma inconquistável.

 

Das garras impiedosas das circunstâncias

Não recuei nem chorei,

Sob os golpes do destino

Minha cabeça sangra, mas não se curva.

 

Além deste lugar de ódio e lágrimas

Há apenas o horror das sombras,

Entretanto a ameaça dos anos

Me encontra, e me encontrará, destemido.

 

Não importa quão estreito o caminho,

Quão cheia de punições a minha sina,

Eu sou o mestre do meu destino,

Eu sou o comandante da minha alma.”

 

Que possamos todos abandonar extremos, nos abrirmos ao diálogo e construirmos um mundo justo com igualdade de direitos e oportunidades. Que possamos adotar a máxima: Nada do que é humano me é indiferente!

 

*Marcelo Madarász é diretor de RH para a América Latina da Parker Hannifin

 

Foto de abertura: Marcos Suguio