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21/08/2020 - 11h01

Employer branding e o mundo do futebol

Neste artigo, Caio Infante fala de marca empregadora fazendo uma analogia entre clubes esportivos e empresas

 

 

Por Caio Infante*

 

Uma das minhas paixões é o futebol. Desde cedo, minha maior diversão era jogar bola com meu pai, meu irmão, meus amigos, vizinhos e até sozinho. Se você está se perguntando se eu jogo bem, diria que sim, e não só pela semelhança e apelido de Messi. Por causa dessa paixão, hoje quero falar de employer branding e o mundo do futebol. Dá até para ser nome de série ou filme. A carreira no futebol, como qualquer outra, envolve altos e baixos, empresas (clubes) e chefes (dirigentes e treinadores), equipe (jogadores) e público (torcida).

 

DESAFIO

O que faz profissionais e atletas mudarem ou permanecerem em uma empresa ou um clube certamente são os desafios. E desafio varia de pessoa para pessoa, do momento de vida, da família, etc. Ronaldo Fenômeno largou os milhões de euros da Europa, em 2009, para encarar um novo desafio: defender um grande time brasileiro e jogar para a torcida brasileira. Voltou ao Brasil para ser um louco do bando, em referência ao apelido da torcida corintiana.

 

O movimento de executivos deixando grandes corporações para se aventurarem nas startups confirma que dinheiro não é tudo. Eles também são motivados por desafios, propósito e outros atributos que uma grande organização talvez não ofereça mais.

 

A consequência é resultado: títulos, fama e dinheiro para atletas e clubes; lucro, produtividade, promoções de carreira e engajamento para colaboradores e empresas.

 

PODER DE ATRAÇÃO

Alguns clubes são mais atraentes que outros, seja pelo tamanho da torcida, por disputar títulos ou pela qualidade do elenco. Em uma empresa, a busca por status, por inovação e por transformar um segmento são alguns dos atributos que as pessoas procuram, sem falar da oportunidade de carreira. Um jogador que quer chegar à seleção de seu país precisa jogar, ter oportunidade de mostrar seu futebol. Um profissional que quer crescer e se desenvolver, também precisa dessa exposição. E algumas empresas, assim como clubes, conseguem entregar esses atributos e atrair os melhores talentos ou jogadores. Qual jovem não tem o sonho de jogar no Barcelona, da Espanha, por exemplo? E a sua empresa, é o Real Madrid ou o Íbis do mundo corporativo?

 

MARKETING

O Manchester United não nasceu um time grande. Foi preciso conquistar títulos, ter exposição na mídia, fazer excursões pelo mundo para garantir uma legião de fãs (consumidores). E querer fazer parte dessa jornada é o que garantiu ao clube jogadores como Beckham, Tevez e Cristiano Ronaldo. O outro clube da cidade, o Manchester City, levou anos para ter uma estrutura similar à do rival e ser tão atrativo quanto. E ainda levará anos para ter os mesmos títulos e status.

 

No Brasil, o Flamengo acabou se tornando um dos clubes mais populares do país por conta das transmissões do futebol carioca para o Norte e o Nordeste nos anos 1980, e com um time vitorioso comandado por Zico, um ídolo nacional. Até hoje, inspira gerações que desejam iniciar a carreira no Ninho do Urubu, como é chamado o centro de treinamento do clube.

 

CONTRATAÇÃO

Se um time já possui três goleiros, não faz sentido investir na contratação de mais um ou dois atletas para essa posição. Porém, se o ataque não está funcionando, os esforços deverão ser focados em atrair bons atacantes. Em uma empresa, definir bem qual talento é necessário contratar faz toda a diferença de onde investir os recursos para resolver problemas reais do negócio.

 

É comum que um jogador de time pequeno ou do interior desponte em um campeonato e no ano seguinte seja cobiçado por grandes clubes. A melhor proposta de trabalho, oportunidade de conquistar títulos, jogar com grandes colegas e ser treinado por um bom técnico são fatores que pesarão na decisão para o próximo passo de carreira. E seu talento, que você manda um inbox no LinkedIn sem oferecer qualquer diferenciação técnica, como será seduzido para trabalhar com você? É preciso se diferenciar. Sempre!

 

LIDERANÇA E TIME INSPIRADORES

Para garantir bom desempenho e resultados, é preciso que o time tenha sinergia, respeito, confiança entre todos e líderes que saibam tirar o melhor de cada atleta. Alguma semelhança de times com empresas? Total! Basta trocar a palavra atleta por colaborador.

 

INDICAÇÃO

Programas de indicação são comuns em muitas empresas. Conhecendo bem o ambiente e se sentido satisfeitas e reconhecidas, as pessoas indicarão o lugar que trabalha. Ligações entre atletas antes de mudarem de clube também ocorrem para saber como é a diretoria, o centro de treinamento, etc.

 

RETENÇÃO

É comum vermos jogadores rodando de clube em clube sem deixar uma marca por onde passam. Quantas pessoas ficam um ano em uma empresa e já partem para um novo desafio?

 

Os grandes ídolos, assim como os grandes profissionais de sucesso, permanecem na empresa ou no clube que amam, se tornam referência e incorporam o sobrenome corporativo, sendo lembrados para sempre como Marcelinho do Corinthians ou o Jack Welch da GE. Sem dúvida, a performance e os resultados dentro de campo e nos negócios ajudam a construir essa história.

 

DINHEIRO NÃO É TUDO

O futebol movimenta muito dinheiro e conhecemos os atletas com supersalários da televisão. Porém, quantos não são os atletas que negam propostas para ganharem ainda mais por lealdade ao clube ou por se sentirem à vontade com o clube, diretoria, torcida?

 

O ex-goleiro Marcos, do Palmeiras, negou uma proposta do Arsenal, da Inglaterra, para jogar a série B com o time. O próprio Messi negou ofertas bilionárias da China e da França para seguir sua carreira e seu legado no Barcelona.

 

APITO FINAL

Eu poderia citar inúmeros exemplos, fazer analogias e comparações entre esses dois mundos. O fato é que o que as pessoas buscam é a mesma coisa, o que vale é como sua empresa entrega as diferentes experiências e como conta seus valores, suas histórias e sua cultura.

 

Não existe um clube que tenha tudo o que um jogador sonhe, nem um time que seja vitorioso sempre. Fazer employer branding é se conectar com os talentos que realmente importam, ter uma estratégia e uma mentalidade vencedoras e também querer construir um legado. É um tema que entrega resultado no longo prazo.

 

Depois de fazer uma boa estratégia de EB, tenho certeza de que seu talento olhará para a empresa e a desejará como um jovem jogador sonha em vestir a camisa da seleção brasileira. Ou, no meu caso, do Corinthians.

 

 

*Caio Infante é gerente geral para América Latina da TMP WorldWide e cofundador da plataforma Employer Branding Brasil

 

Foto de abertura: Arquivo pessoal