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07/07/2020 - 12h15

A lua na pandemia

Em novo artigo, Marcelo Madarász faz uma reflexão, propiciada pela pandemia, sobre a vida

 

 

 

 

Por Marcelo Madarász*

 

Mundo de pandemia, entre um call e outro, em casa, já que estamos no mundo do home office, entre uma live e outra, já que agora muitos decidiram se entupir de lives, talvez para não entrarem em contato consigo mesmos, resolvo dar uma olhada pela janela. Consigo ver prédios muito altos e, agora  fenômeno raro possibilitado pela diminuição da poluição, vez em quando vemos até estrelas e nos deixamos levar por pensamentos bonitos, nostálgicos, quem sabe românticos. 

 

O fato é que, numa dessas distrações recomendadas até pelas autoridades da área médica, coisas de ergonomia, olhei para cima e estava lá: absolutamente majestosa, reinando solitária no seu reino celeste e incrivelmente cheia. A lua com toda a sua beleza. Linda, poderosa, soberana, alheia ao vírus, às maledicências, aos jogos dos governantes. Alheia ao moço que clamou por ar e que teve esse mesmo ar negado, alheia ao menino que buscava sua mãe e se perdeu nos labirintos dos elevadores e da ausência de mãos amorosas que o guiassem. A lua estava lá no pedaço que escolheu do céu, entre edifícios gigantes. Absorto em meus pensamentos e fascinado por sua beleza prateada, senti a necessidade de fazer um registro dela. Corri para o celular, o peguei rapidamente, abri a câmera e fui para a varanda. Ela simplesmente não estava mais lá. Dona de seus caprichos ou inserida no céu tal qual as peças de uma constelação, apesar de sua beleza, há outros elementos, como por exemplo, as nuvens. As nuvens resolveram cobri-la e meu desejo de continuar a contemplando fora interditado.

 

Voltei para dentro com certo gosto de desapontamento, mas pensei que assim é a nossa vida. Repleta de momentos como esse. Às vezes, simplesmente não vamos para as janelas e varandas e nem sabemos da existência de uma cena tão mágica. Outras, chegamos até a varanda, mas nos encontramos tão abduzidos em algo que certamente não é tão bonito, mas não nos damos o trabalho de erguer o olhar. Mas ela está lá. Outras vezes ainda, nos vemos impedidos de ver a beleza, tamanha a rudeza de nossas lentes e pequenez de nossas consciências. Mas a lua está lá. Sim, esses momentos mágicos não duram para sempre, nada dura para sempre, mas o importante é que eles existem e nós temos a capacidade de percebê-los e melhorarmos a qualidade da nossa visão e vida, também porque eles existem.

 

Que outras luas existem em sua vida que você tem deixado de ver? Às vezes, essa lua pode vir em forma de pessoas que você simplesmente não está se dando a oportunidade de conhecer, você não está dando ao mundo e a você a chance de ter uma vida melhor.

 

Época de pandemia, medo do desconhecido, desejo assustador de voltar ao passado ou de fazer o tempo passar mais rápido. Cuidado! Sem antever nenhuma desgraça – seria contrário a tudo que mais acredito que precisamos desenhar em nossas mentes e corações, o convite é simplesmente para parar um minuto, respirar, perceber-se, localizar-se e apurar o seu olhar da forma mais amorosa possível e como se você estivesse se voltando ao superior em prece, com o coração transbordando de gratidão e o olhar sedento de beleza, olhe a lua!

 

*Marcelo Madarász é diretor de RH para a América Latina da Parker Hannifin

 

Foto de abertura: Marcos Suguio