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04/05/2020 - 12h20

Back to work - Artigo de Marcelo Nóbrega

Carta aberta às cobaias deste grande experimento e ponderações sobre a retomada das atividades

 

 

Por Marcelo Nóbrega*

 

Enquanto tentávamos nos manter sãos física e mentalmente, implementamos o maior experimento de trabalho remoto da história da humanidade!

 

Em questão de dias, vimos cair por terra vários tabus do mundo corporativo. No caso dos trabalhadores que enxergavam no trabalho remoto uma modalidade viável e desejada, foram anos engolindo desculpas do tipo “nossa empresa ainda não tem a maturidade”, “nosso negócio é diferente”, “aqui não vai funcionar” ou “ano que vem testamos”.

 

A necessidade é a mãe da invenção, já dizia Platão. E pra manter o negócio funcionando, em tempos de restrições de mobilidade da população, o teletrabalho foi redimido. Uns apelaram para a criatividade, outros superaram obstáculos na base da força bruta mesmo.

 

Quem não teve ajuda da empresa para improvisar um home office se virou como pôde: deu um boost no wi-fi, providenciou suporte para câmeras, melhorou a iluminação do local, afinal lives e reuniões virtuais tomaram conta da agenda. Provamos que dá pra trabalhar de casa, mas convenhamos que não precisava ter sido, assim, aos trancos e barrancos…

 

Em breve, as restrições de mobilidade serão afrouxadas e poderemos voltar aos escritórios. Será que queremos. Vamos nos sentir seguros?

 

Se na adoção em massa do trabalho a distância ficamos devendo muito em termos de gestão da mudança, agora teremos a oportunidade – e o dever! – de conduzir a desmobilização (ou será a remobilização?), de forma ordenada, segura e respeitosa.

 

Sobre a retomada: pra quem não sabe, além de RH, também fui responsável pela área de Saúde e Segurança do Trabalho em algumas empresas. Juntando essa experiência com tudo o que consumi na maratona de webinários e de leituras, das últimas semanas, tracei um mini roteiro que compartilho com vocês.

 

Em primeiro lugar, vem a saúde. A segurança de todos – colaboradores, clientes e público em geral – é a prioridade nesse momento. Então, é preciso criar um ambiente em que todos se sintam verdadeiramente cuidados.

 

E o que considerar, num primeiro instante, quando pensamos em medidas de proteção?

 

- a proximidade entre as pessoas;

 

- o tipo de contato: direto (as interações exigem o toque) ou indireto (várias pessoas tocam a mesma mercadoria, equipamento, mobiliário);

 

- a duração das interações;

 

- a frequência e o número de interações.

 

Na lista a seguir, leve em conta aquilo que fizer sentido para a realidade da sua empresa. Estou tratando aqui do universo do ESCRITÓRIO. Cada negócio tem suas peculiaridades: ambientes fabris e laboratórios, por exemplo, exigem medidas mais rígidas. Vamos aos tópicos:

 

- providenciar vacinação contra gripe;

 

- distribuir cartilhas sobre a prevenção para os colaboradores e famílias;

 

- manter membros dos grupos de risco em remote work por mais tempo;

 

- retornar gradualmente, mantendo carga horária reduzida ou limitada a certos dias da semana ou a determinadas equipes;

 

- aumentar o distanciamento entre os postos de trabalho; diminuir o número de pessoas em cada espaço;

 

- tomar a temperatura de todos no início e final do dia;

 

- fornecer luvas, máscaras e álcool em gel;

 

- aumentar a frequência da limpeza de áreas comuns;

 

- restringir reuniões, eventos, treinamentos, visitas externas ou qualquer outra iniciativa que cause a aglomeração de pessoas;

 

- limitar as viagens ao mínimo essencial;

 

- estabelecer horários de refeições de modo a diminuir o tráfego de pessoas;

 

- permitir ou mesmo estimular que tragam comida de casa ou peçam delivery;

 

- manter limpos os equipamentos de ar-condicionado e dar preferência a deixar as janelas abertas para assegurar uma melhor qualidade do ar;

 

- diminuir a densidade dos fretados;

 

- flexibilizar as regras de estacionamento a fim de permitir que mais pessoas usem transporte próprio;

 

- flexibilizar o uso do plano de benefícios permitindo gastos que são mais necessários neste momento;

 

- assegurar teleatendimento médico para saúde física e mental do colaborador e famílias;

 

- treine todos em relação a esses novos procedimentos, antes do retorno à atividade.

 

Não conseguiremos antecipar tudo o que pode vir a ocorrer, e algumas situações deverão ser tratadas de forma personalizada e com muita flexibilidade. Por isso, aí vão as últimas recomendações:

 

Atenção àqueles que não querem retornar ao escritório neste momento. Os motivos podem ser os mais variados, desde ter alguém do grupo de risco em casa até não saber com quem deixar os filhos que não estão indo à escola…

 

Atenção a situações individuais. Muita coisa aconteceu nessas semanas de distanciamento social. É difícil dizer como cada um foi afetado, como planos pessoais foram atropelados, como cada um conseguiu lidar com essa grande mudança na vida. É hora de ouvir.

 

E, por último, sua equipe está se superando nesse novo não-ambiente de trabalho. Considere formas de recompensar ou bonificar essas pessoas quando tudo passar. Como eu disse lá no início, fomos cobaias do maior experimento de trabalho remoto da humanidade e, vamos combinar que, pro jeito intempestivo com que a coisa se deu, temos nos virado muito bem!

 

*Marcelo Nóbrega é executivo de RH aficionado por tecnologia e inovação, anjo investidor e conselheiro de HR Techs

 

Foto de abertura: Fernando CTenas