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31/01/2019 - 12h00

O que precisamos aprender com a tragédia de Brumadinho

Por Josmar Giovannini*
 
Infeliz e novamente, o Brasil está a chorar pelos seus mortos, no mais recente e trágico “acidente” acontecido na cidade de Brumadinho (MG), o qual está sendo considerado um dos mais devastadores acidentes ambientais das últimas três décadas no mundo, e o pior acidente trabalhista do Brasil. Nos perguntamos estarrecidos pelos motivos que levaram às semelhanças deste terrível acontecimento com o acidente ocorrido em Mariana, há pouco mais de três anos, com o qual tivemos a chance, mas parece não termos aprendido nada com a amarga lição. Analisamos os mapas e imagens, e constatamos estupefatos os locais de instalação de escritórios e refeitórios no local, situados muito próximos da imensa barragem de 86 metros de altura, desconsiderando total e completamente todo e qualquer risco que isso poderia acarretar para as centenas de funcionários que trabalhavam e circulavam pelo local. Sobram dúvidas!
 
Tecnicamente, é quase impossível que uma estrutura como a que cedeu no dia 25 de janeiro não fosse dotada de sensores capazes de monitorar a fadiga, a deterioração ou o comprometimento dos materiais que a compunham, a fim de permitir que fossem tomadas pela empresa responsável medidas corretivas com as devidas urgências que necessitavam, evitando assim o desastre iminente. No caso da impossibilidade de serem executados os devidos reparos e, caso houvesse tempo suficiente, os rejeitos deveriam ser (de alguma forma) transferidos, para diminuir os riscos de ruptura da barragem, sem afetar a população, a qual, tão somente em caso de risco real de morte, deveria ser evacuada das suas casas. Porém, isso não aconteceu.
 
A eventual negligência das interpretações dos controles internos da barragem, ou da ausência de controles internos adequados para a sua operação, propiciaram um aumento gradativo e significativo da possibilidade ou probabilidade da ocorrência de acidentes com a mesma, ou seja, aumentaram os riscos de acidentes, os quais podem ter sido despercebidos, desconsiderados ou minimizados pela equipe de operação da barragem, o que infelizmente resultou no desastre fatal que engoliu vidas humanas, devastou com a fauna e com a flora locais, e prejudicou diretamente, segundo estimativas, a vida de 24000 pessoas.
 
A conformidade com as leis será verificada, testada e comprovada com as investigações que já se iniciaram, bem como deverá ser oferecido o direito à ampla defesa e ao contraditório aos responsáveis diretos pelo acidente. Porém, ao analisarmos os detalhes do mesmo, chegamos à aparente conclusão que a conformidade com a ética e com os direitos fundamentais dos seres humanos tenha sido relevada e desrespeitada, o que é muito grave, uma vez que são básicas e fundamentais para o bem-estar da população e para o desenvolvimento sustentável do nosso país.
 
Nesta hora de consternação, ecoam as palavras ditas por Mr. Edmund Burke, o qual há mais de 200 anos previa que “um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la”. Então, que não relevemos nunca mais a nossa história, e que projetemos melhor o nosso futuro. 
 
*Josmar Giovannini é diretor do Departamento de Gestão de Documentos da Huawei do Brasil