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03/02/2017 - 10h00

Desemprego alto: é hora de mudar

Por Othon Almeida*

 

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) confirma neste final de janeiro que o desemprego foi um dos mais sérios problemas vividos no país em 2016. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, realizada em 3.500 municípios, o número de desempregados atingiu 11,8 milhões, um crescimento de 37,2% em relação aos 8,6 milhões de pessoas sem trabalho no ano anterior.

 

Esse é o maior patamar de desemprego da série histórica da pesquisa, cuja atual metodologia começou a ser utilizada em 2012. Dessa forma, o desemprego médio anual entre os brasileiros atinge a casa dos dois dígitos pela primeira vez, com 11,5% da população economicamente ativa à procura de trabalho.

 

O desemprego em patamar elevado e a renda em queda, como registrado, são elementos negativos para o setor produtivo nacional, já que os impactos constritivos sobre o consumo e a atividade econômica são consideráveis. Eles afetam em cadeia a indústria, o varejo e os serviços, além de impactar significativamente as instâncias governamentais.

 

No entanto, os dados do IBGE mostram que, apesar de o primeiro semestre do ano passado ter sido ruim, o segundo apresentou uma melhora. Em setores como comércio, alojamento e transportes houve saldo positivo de contratações, por exemplo.

 

Assim, apesar do resultado negativo no conjunto, para os mais otimistas – grupo ao qual faço questão de me incluir, sempre –, um dado tão duro como o divulgado pelo IBGE indica que este é o momento ideal para ocorrer uma reversão imediata de tendência, já que a economia deprimida precisa de poucos, mas incisivos movimentos de estímulo para mudar de trajetória.

 

Mas não podemos nos iludir: o emprego é um dos últimos a reagir quando ocorre a retomada da atividade econômica. Antes disso, outros elementos impulsionadores da economia precisam estar fortalecidos.

 

No início do quarto trimestre do ano passado, a Deloitte realizou a pesquisa Agenda 2017, que apontava expectativas de retomada gradual do crescimento. Desde aquele momento, alguns indicadores e fatos ocorridos podem ter refreado o ímpeto dos gestores, que desejavam a reversão do cenário negativo. Mas, o caminho da retomada nos parece ser aquele mais factível, já que o inverso equivaleria a condenar nossa economia a um terrível quadro de depressão.

 

No estudo, a maioria dos gestores esperava que o nível de emprego de suas organizações fosse mantido (para 58% dos participantes), ou mesmo ampliado (26%). Apenas 16% estimavam reduzir seus quadros funcionais em 2017. Se boa parte dessas projeções se tornar realidade, as expectativas tendem a se manter positivas.

 

Das empresas que pretendem manter ou contratar funcionários, 43% admitem intenção de procurar profissionais mais qualificados. Desse modo, e pensando na perenidade das empresas brasileiras, o levantamento do IBGE pode até representar estímulos à retomada. Afinal, a oferta de mão de obra está alta, e é possível absorver profissionais qualificados, que podem contribuir com a melhoria das estruturas corporativas.

 

Profissionais qualificados tendem a ajudar na adoção de inovações e na renovação de expectativas e possibilidades empresariais. Tudo isso deve ser aliado ao uso e à aplicação de novas tecnologias para a gestão e produtividade, que estão mais acessíveis e que têm potencial de transformar as organizações.

 

O Brasil, o brasileiro e nossos gestores não podem ficar paralisados nesse momento, que tem sido cruel com as pessoas e as organizações. Sair da inércia e transformar nossa atual realidade é a única forma de projetar um futuro mais equilibrado e adequado ao país. Pode parecer fácil apenas falar em transformação, em reação e em mudança de cenários. Mas essa é a opção que temos para fazer com que pessoas e instituições não apenas sobrevivam, mas vivam a intensidade de um país com grande potencial e que pode nos oferecer muito mais do que tem sido permitido em função da crise.

 

*Othon Almeida é sócio-líder de Desenvolvimento de Mercado da Deloitte Brasil