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26/06/2017 - 16h00

Coaching é moda. Que bom!

Por Claudia Klein*

 

Do francês mode, o conceito de moda remete de forma mais ampla à tendência de consumo, a um costume que é mais predominante em uma determinada época histórica e é adotado por uma grande parte da sociedade. Seu significado está diretamente relacionado ao contexto.

 

A expressão "estar na moda" no sentido de uso frequente no cotidiano, influenciou Karl Pearson em 1895 a cunhar o termo moda para o uso na estatística, um ramo da matemática. Moda em estatística significa o valor mais frequente em um conjunto de dados, e é uma medida especialmente importante quando a série de observações é qualitativa.

 

Com formação em estatística sou naturalmente levada a refletir sobre alguns dos possíveis motivos que fazem esta profissão aparecer com grande frequência entre as mais procuradas, tanto por profissionais em busca de uma nova atividade profissional quanto por instituições e indivíduos que desejam usufruir dos benefícios oferecidos para quem contrata um coach.

 

Como moda está relacionada ao contexto, faço uso do acrônimo em inglês V.U.C.A., criado pelo exército americano e rapidamente adotado pelo universo da gestão, para definir, traduzindo para o português, o mundo atual como vulnerável, incerto, complexo e ambíguo em graus nunca antes observados.

 

A globalização, o avanço da tecnologia e seus muitos impactos, marcaram a transição para a era digital. Neste processo o foco deixou de ser o “produto” e colocou em evidência o “usuário”. Para continuarem crescendo ou mesmo sobreviverem, as organizações buscam continuamente novos e diferentes modelos de negócio, com ênfase na diferenciação e na construção de relacionamento sustentável com clientes e demais stakeholders.

 

Sob a perspectiva dos indivíduos, está em curso uma dramática mudança na forma como as pessoas organizam e gerenciam suas vidas e relacionamentos. O aumento da expectativa de vida, as mudanças na definição do conceito de família, a interação social online, o aumento da busca por significado e a valorização da convergência entre vida pessoal e profissional são alguns exemplos de fatores que vêm levando as pessoas a refletirem sobre a sua realidade, suas potencialidades, limites e, principalmente, sobre as muitas alternativas que dispõem hoje para trilhar sua trajetória profissional.

 

O estilo comando e controle perdeu definitivamente espaço, abrindo caminho para uma liderança orientada por propósito, colaboração e engajamento. Como consequência, ficou evidente a necessidade de diversificar perfis, pensamentos, competências, contribuições e estilos no ambiente de trabalho. Esta diversidade desejada e necessária levou as instituições ao redesenho dos seus modelos de desenvolvimento. Em paralelo, esta nova era alçou o indivíduo ao papel de protagonista na relação de trabalho, tornando-o o principal responsável pela construção da sua carreira.

 

Considerando este contexto, o coaching virou moda com louvor, por que a abordagem de desenvolvimento com ênfase no coletivo e no aporte conceitual não consegue mais endereçar as necessidades do mundo V.U.C.A. Fez-se, então, necessário conjugar a abordagem coletiva com uma que contemplasse a realidade individual, que fosse capaz de endereçar de forma customizada aquilo que cada profissional precisa desenvolver diante das escolhas e dos desafios que abraça. O coaching se tornou moda por ser um processo de desenvolvimento centrado no indivíduo, capaz de apoiar a ampliação de possibilidades e a melhor tomada de decisão em uma sociedade nada óbvia e muito menos linear.

 

Por outro lado, celebrar o coaching como moda não pode ser motivo para nos esquecermos do risco de virar modismo, o que pode ser descrito como o hábito de consumir algo de forma tendenciosa e igualitária tendo, portanto, caráter efêmero.

 

Representantes das empresas responsáveis pela eventual contratação de um coach caem no modismo quando insistem em terceirizar suas responsabilidades de gestão a um profissional externo se eximindo de dar feedback e de apoiar o desenvolvimento de seus colaboradores. Contribuem negativamente transformando moda em modismo quando buscam a contratação de um coach com o discurso de ser a última chance para o colaborador.

 

Por não ser uma atividade regulamentada, permitir diferentes abordagens, ser multidisciplinar e não oferecer barreiras de entrada importantes é relativamente fácil ingressar na profissão. É grande o número de profissionais que, nos últimos anos, têm buscado o coaching como uma alternativa profissional. Estes ajudam a criar modismo quando creem no sucesso como rápido e certo, buscam uma formação incipiente que, na verdade, é um mero atalho para a conquista do certificado e não se preparam adequadamente para gerir sua própria oferta e prática de coaching.

 

Que bom que coaching está na moda! Acredito realmente que represente uma possibilidade real de resposta às necessidades de desenvolvimento pessoal e profissional em um mundo bastante complexo, mas que ao mesmo tempo oferece muitas oportunidades.

 

Creio que a informação e a educação contínua dos diferentes players envolvidos neste mercado é um caminho para fugir da facilidade e da banalidade que residem no modismo.

 

Para fortalecer a prática profissional de coaching, coaches, aspirantes a coach, escolas formadoras, associações profissionais de coaching (como a ICF – International Coach Federation - da qual sou diretora voluntária), gestores, RH´s e os próprios clientes precisam agir em conjunto para que o coaching de excelência seja cada vez mais frequente. Caso contrário, corremos o risco de desperdiçar seu potencial de transformação.

 

Qual é o seu papel nesta história?

 

*Claudia Klein é especialista em desenvolvimento profissional e diretora de relacionamento com o mercado da International Coach Federarion (ICF) do RJ